DAIANE FAGHERAZZI

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Farroupilha, Rio Grande do Sul, Brazil
Formada em Letras/Português (PUCRS - 1998/2002) com Pós-Graduação no Ensino de Língua Portuguesa (PUCRS - 2003/2004) e Mestrado em Linguística Aplicada (PUCRS - 2006/2007).

sábado, 15 de outubro de 2011

COMUNICAÇÃO VIRTUAL - DAIANE FAGHERAZZI


Hoje, não se escreve ou se lê exatamente como nos velhos tempos, navega-se. A navegação é uma forma de leitura mais complexa do que a linha por linha da nossa tradição cultural. Os olhos correm pela tela e lá vamos nós viajando por milhares de informações nem sempre conectadas. Se há muito lixo pelo caminho, ainda assim não se pode negar a riqueza fantástica da linguagem via web. Essencialmente, os hiperlinks fazem tudo. Eles nos deslocam de onde estamos lendo para o contexto do que nunca imaginaríamos ler ao mesmo tempo. A linha por linha cede ao link por link. Ler, hoje, é dar saltos de significação. Isso sem contar a mistura impressionante de textos, imagens e sons. A multimídia é uma outra rede. Uma rede por sobre a outra.

E, quando estamos, como seres ávidos de comunicação, compartilhando linguagens e dialogando via máquina, atingimos uma amizade “real time” sem paralelo na história da comunicação. Não há como negar o prazer de encostar nosso perfil (orkut) em outro, de trocar sonhos via rede. Estamos próximos, mas com a sensação de que estamos protegidos. A máquina está entre nós. O que queremos dizer é algo que nem sabemos direito quando começamos a nossa vida orkutiana. Milhares de outras pessoas aparecem e, com elas, milhares de intenções e de segundas e n intenções, na expansão digital de nossos eus.

Estudar o significado da linguagem interativa é, sem dúvida, algo muito mais complexo do que parece. Temos que distinguir o significado do que se diz do significado do que se quer dizer. O significado da sentença do significado dos dialogantes. Os orkuteiros querem dizer muito mais do que aquilo que está em suas palavras a maioria das vezes.

Temos um desafio, ou melhor o Orkut nos desafia. Há muitas formas de dizer e querer dizer nele. As implicaturas, ou inferências pragmáticas, podem representar o esquema geral que descreve o que se quer dizer e o que se espera que o outro entenda. O Orkut é um discurso interativo riquíssimo em inferências sem as quais talvez ele não fosse possível. Nem conseguimos imaginar como seria se tudo sempre fosse dito. Não valeria a pena, em termos de esforço, o benefício de dizer diretamente quem somos; o Orkut seria muito pobre, pouca relevância para tanto custo.

O processo só funciona porque temos a sensação, orkuteiros que somos que estamos passando uma verdadeira vida para o lado de lá. Isso é incrível. Passamos, quando estamos interagindo nesse tipo de ambiente, pensando, fazendo milhares de conexões, autorizadas ou não, que nos colocam em rede com uma comunidade inteira de pessoas que talvez nem venhamos a conhecer fora da rede jamais.

Somos amigos virtuais porque raciocinamos pelo mesmo modo. O Orkut é uma vastidão excitante de intenções que nos algemam link to link. DAIANE FAGHERAZZI

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