DAIANE FAGHERAZZI

Minha foto
Farroupilha, Rio Grande do Sul, Brazil
Formada em Letras/Português (PUCRS - 1998/2002) com Pós-Graduação no Ensino de Língua Portuguesa (PUCRS - 2003/2004) e Mestrado em Linguística Aplicada (PUCRS - 2006/2007).

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Memórias de Maria José, neta de uma escrava maranhense

     Tive a oportunidade conhecer uma senhora chamada Maria José, 88 anos, nascida em São Luís do Maranhão, neta de uma escrava. Compartilhei a história com meus alunos e, a partir da minha narração, eles se colocaram no papel dessa mulher e escreveram suas memórias. Destaco este texto:

                                                         Negrinha maranhense
    Na minha infância, em São Luís, algo triste aconteceu e nunca mais saiu da minha cabeça: a morte do meu irmão. Eu o havia matado? Eu era a culpada? Neta de uma escrava e filha de um italiano minha vida não fora nada fácil. Não fui louca e nem fiquei louca. A tragédia aconteceu porque havia uma criança cuidando de outra criança.
    Minha mãe, uma senhora baixinha e metida, adorava um baile e vivia em festas. Uma noite saiu para dançar e me pediu para cuidar do meu irmão, um bebê. Naquela noite ele não parava de chorar. Muito dedicada eu embalava o berço, cumprindo o prometido. Como estranhei o silêncio do pequeno, resolvi vê-lo mais de perto. Como era pequena, peguei uma cadeira e aproximei-me do menino. Naquela época não havia eletricidade, então o jeito era enxergar com uma vela. Sem querer, deixei-a cair sobre os lençóis. A cama pegou fogo, o jovenzinho resistiu apenas um dia.
    A tristeza tomou conta do nosso lar. Minha mãe ficou doente e me deu para a minha madrinha. Acho que seria melhor assim. O que eu faria com uma mãe ausente? Uma mãe que nem me enxergava? Eu queria ser amada também...
   O tempo passou e fui morar no Rio de Janeiro. Um belo dia, caminhando por Copacabana, minha madrinha avistou alguém conhecido. Era ele, meu pai, um senhor já bastante envelhecido pelo tempo. Para mim não importava. Pela primeira vez estava vendo a imagem do meu pai. A alegria tomou conta de mim e fui abraçá-lo. Ele me contou que já havia outra família. Fora apaixonado por minha mãe, mas ela era muito agressiva. Quando ele era jovem, um pouco antes de eu nascer, inventou uma história que iria para a Itália visitar seus pais. Nunca mais voltou a São Luís do Maranhão.
   Acho que agora sei por que minha mãe morreu tão jovem: tristeza do abandono, tristeza da morte do meu irmão, tristeza da vida.
Nariele - Turma 611

Nenhum comentário:

Postar um comentário