DAIANE FAGHERAZZI

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Farroupilha, Rio Grande do Sul, Brazil
Formada em Letras/Português (PUCRS - 1998/2002) com Pós-Graduação no Ensino de Língua Portuguesa (PUCRS - 2003/2004) e Mestrado em Linguística Aplicada (PUCRS - 2006/2007).

sábado, 17 de novembro de 2012

Nobre trabalho - Olimpíada da Língua Portuguesa

Nobre trabalho
Vívido trecho de um episódio contado por minha generosa "nonna", "Bitele, dame le nozele?", "Mi no!", ressoa em minha mente. Mais de vinte anos se passaram e ainda sinto sua voz terna me contando em dialeto vêneto a história de um menino teimoso que não queria dividir as nozes com sua irmã. Certamente algo dentro de mim não quer esquecê-la. São as marcas de família, minha identidade, minhas memórias...
Além de escutar belas narrativas, meu mundo, por longos anos, girou em torno de livros: diferentes autores, figuras memoráveis, textos fascinantes. Nova Milano, típica paisagem interiorana, convidava-me a passar as manhãs presa ao ambiente literário, e eu amava. Em frente a minha casa existia uma árvore. Nela meu pai construiu uma estrutura de madeira, carinhosamente chamada de cabana aérea. Essa muito participou da minha infância leitora e feliz.
Sempre fui sonhadora, e as histórias me permitiam alimentar, através dos personagens, minhas utopias. Sarandear por entre as palavras sempre me seduziu. No colégio, o glamour dos palcos me intimidava; já a folha branca e a caneta eram minhas íntimas amigas. Amor às palavras, sim; prazer em escrevê-las, muito mais. Havia magia nesse cenário e isso se perpetuou...
Tornar-me professora talvez tenha sido um chamado interno. Assumi esse compromisso. Minha mãe sempre me dizia que aprendemos muito com o novo. Ele nos desafia. Acho que acabei acreditando nisso e segui em frente. Tornei esse discurso mais vivo no percurso acadêmico e profissional.
Este ano tive a oportunidade de participar das Olimpíadas de Língua Portuguesa. Transitar com maestria em meio à leitura e à escrita é missão de todo professor e um vício para mim. Assim, fui convidada para a formação continuada de professores mediante estudos mensais. Nos encontros, abordou-se "lugar onde vivo" com o intuito de escrever não só sobre o local onde se vive, mas estimular novas leituras, pesquisas e reflexões. Foi ressaltado que o tema deveria se enquadrar em textos com ponto de vista próprio e singular, isto é, numa perspectiva pessoal. Como o gênero "memórias" articula o passado ao presente, destacou-se a importância da escolha da pessoa a ser entrevistada, a seleção e a organização de informações relevantes acerca dela.
Li os cadernos didáticos e, a partir deles, tracei uma diretriz para as práticas. Propus atividades que contribuíssem para a descrição de personagens, costumes, cenas, lugares, sensações, impressões. A coleção Na Ponta do Lápis também contemplou os seguintes aspectos: progressão textual, aspectos linguísticos como a retomada de referentes, nexos temporais, tempos verbais, indicadores espaciais e utilização do discurso direto e indireto.

Escrever não é um talento natural. É uma habilidade que pode ser desenvolvida. O aluno-autor vai tendo maior autonomia na medida em que sabe o que dizer, como dizer, quais expressões usar, além de avaliar e ajustar o que foi dito.
Então, para enriquecer o estudo, baixei vídeos sobre as Olimpíadas e salvei alguns textos vencedores e os projetei na sala de aula a fim de os jovens mergulharem no tema. Houve períodos em que eles foram à sala de informática, entraram em contato com o site, leram várias produções e escolheram uma para ser refletida. Topicalizaram oralmente aspectos importantes do gênero "memórias literárias" - abordado anteriormente em sala - e ressaltaram os traços de autoria do texto selecionado.
Os encontros proporcionaram espírito investigativo e refinamento linguístico. Além disso, assistimos a dois filmes que contribuíram para o caráter narrativo em primeira pessoa: A Vida é Bela e Escritores da Liberdade. Os estudantes escreveram textos, colocando-se no lugar dos personagens. Foram realizadas atividades de reescrita que auxiliaram na polidez textual.
Creio que o professor-escritor incita os educandos ao hábito saudável da escrita. Dessa forma, escrevi um texto intitulado "Minha amiga do peito". Retratei as peripécias de uma jovem garota em uma pequena cidade do Rio Grande do Sul e sua parceira inseparável, a Caloi: "Quantas sensações indescritíveis vivia ao compartilhar com minha estrela as pedaladas portão afora. Ousadia não faltava naquele corpinho magro e corajoso de menina levada. Minha Caloi representava muito mais do que uma diversão. Ela fazia parte das emoções diárias".
Concluída a leitura, analisamos os diferentes aspectos do gênero em questão. Os alunos se identificaram com o humor, conseguiram visualizar a história e foram tocados por diferentes sensações. Reminiscências carregam esse encanto...
Na sequência, com a autorização da direção, um casal de senhores esteve na escola para relatar a infância deles. Fotos antigas contribuíram para ilustrar a sociedade urbana e rural da época. Olhos acesos, rostos curiosos se destacavam em meio a tantos discursos provocantes. Passagens tristes, alegres, cômicas, reflexivas envolveram a todos.
Após a apresentação de ambos, os estudantes construíram uma "memória", considerando os relatos anteriores. Não houve tanta dificuldade em se colocarem no lugar de outra pessoa visto que já era familiar essa proposta de trabalho.
Foi uma tarde especial. Não estava no script, mas até o choro fez parte da ocasião. Fomos tocados pela fala de cidadãos comuns que se permitiram, através de suas recordações, retratar suas histórias e transmitir a emoção vivida em períodos difíceis e marcantes das décadas de 40 e 50. Conjugaram-se história, geografia, religião, filosofia, enfim, uma lição de cidadania.
Nesse ambiente temático, foram desenvolvidas belas memórias, e uma delas teve um destaque maior: classificada para a etapa regional das Olimpíadas de 2012. A história, hoje, faz parte não só das lembranças da Dona Riciene, a senhora que abrilhantou uma tarde no Colégio Estadual Farroupilha. Está presente na fala e na escrita de jovens que tiveram a oportunidade de compartilhar passagens significativas dessa mulher. Além disso, fomos provocados a conversar com Farroupilha de outrora, berço da colonização italiana e solo de Nossa Senhora de Caravaggio. Conduzir esse diálogo renovou meus sentimentos.
Vale a pena ouvir; vale a pena imaginar e escrever; vale a pena viver e reviver, nonna mia...
Professora Daiane Fagherazzi


Notas:
"Bitele, dame le nozele?", "Mi no!" significa no dialeto vêneto italiano "Bitele, me dá as nozes?" "Eu não!"
"Nonna" significa "avó".

Olimpíada da Língua Portuguesa em São Paulo - etapa regional

A Olimpíada da Língua Portuguesa foi muito emocionante. Tivemos quatro dias de muito aprendizado e companheirismo. Valeu por tudo que passamos. Uma experiência que ficará marcada para sempre. Cabe destacar que foram 3 milhões de textos em todo o Brasil nos gêneros memórias, poemas, crônicas e artigo de opinião. A Kassiane ficou entre as 125 melhores do Brasil - no gênero memórias - com medalha de bronze. Valeu, querida. Tu és uma vencedora.

No avião da Gol, partindo para São Paulo.

Aproveitamos para ler toda a viagem, né, Kassi?


Cerimônia da entrega de medalhas - Hotel Novotel

A MEDALHA É DE BRONZE, MAS
NÓS SOMOS DE OURO!


Nós somos apaixonadas por leitura...


Praça da Sé - São Paulo



Estudamos bastante...

Professoras amigas e vencedoras. Elas vão para Brasília.











Livros que ganhei em São Paulo.
Ótimo investimento.






Kassiane curtiu os amigos "Fernandos" Pessoa na Rua 25 de Março. Esta rua também é cultura, minha gente. Recebemos inclusive um poema do ilustre escritor.













Eu e Kassiane tivemos a oportunidade de ir ao Museu da Língua Portuguesa. Foi um banho de conhecimento, cultura, boas sensações...




















Kassiane Custódio de Carvalho


ENTRE BOLAS E FANTASIAS
Tudo mudou, mas belas imagens recompõem cenários adormecidos na minha memória...
Quando eu era pequena, aos domingos, nos reuníamos com amigos em São Marcos, interior da cidade de Farroupilha, Rio Grande do Sul. Brincávamos de amarelinha, futebol. Subíamos em árvores. Meu forte era o campo de futebol. Me achava a zagueira, apesar de me adaptar a qualquer brincadeira. Parecia atleta. Amava ver e fazer teatro. Diziam que era pecado, algo proibido. Eu fazia o papel de Carmem Miranda. Frutas e afins bailavam sobre minha cabeça.
Naquela época não havia carro. Usávamos carroça. Ia ao centro da cidade com meu pai. De lá partíamos a Caxias do Sul, cidade vizinha, de trem. Me sentia gente grande. Minha alegria era comer pão d'água e tomar gasosa, uma espécie de refrigerante. Chegávamos a casa à noite. O dia passava tão depressa. Dava a sensação de que a noite parecia haver engolido o dia.
Energia elétrica não existia, então os temas eram feitos à luz de um lampião. O cheiro daquilo era muito forte e impregnava no ambiente.
Minha casa era bem grande, dois andares. Ela representava um palácio para mim. Era a princesa em busca do príncipe encantado. Quando dava um temporal muito forte, na parte superior, tinha a imagem da Santa Bárbara. Íamos até lá e rezávamos para a chuva cessar.
Ao redor da casa, havia cinamomos e camélias, o forno e o tanque de ensaboar. Típica paisagem de interior. Eu amava morar ali. Sentia o frescor do mato, o vento das árvores, a beleza da natureza. O ar do local tornava tudo mágico. Acho que até meus medos e tristezas se iam quando soprava o vento serrano.
Em dia de colégio íamos de avental branco. Eu ficava literalmente ensacada. Era até engraçado. Nos pés calçávamos tamancos. Parecíamos médicas. Mas nem tudo era perfeito. No inverno meus dedos sangravam e faziam calos. Não me queixava. Aquela era minha vida. Eu era feliz assim. Por sorte tinha a Pinhona, uma égua de estimação. Aquele bichinho era meu amor. Com ela ia ao centro vender milho e retornava para casa trazendo farinha. Quando meu pai a vendeu juntamente com a casa, não fiquei triste. Uma família conhecida ia ficar com ela. Gente do bem.
Naquele tempo não havia perigo de sair na rua como hoje. Íamos ao parquinho onde havia balanços, meu brinquedo preferido. Eu sempre dizia a quem me empurrava: “Me manda pro céu. Quanto mais alto, melhor!". A sensação era de voar. Asas pareciam fazer parte do meu corpo. Um tempo inesquecível.
Quando saí do interior, meu pai começou a beber. Eu rezava para ele melhorar. Ele chorava quando bebia. Era um vício. Sempre acreditei na sua recuperação, pois ele era meu herói. Continuei meus estudos em um colégio do centro chamado Nossa Senhora de Lourdes. Lá estudavam pessoas muito preconceituosas. Diziam que quem vinha da colônia era burro. Além disso, tinha muita dificuldade em matemática. Acho que foi por esse motivo que decidi ser professora, ajudar os outros a pensar.
Hoje não sou mais aquela menina ingênua e sonhadora. Ainda carrego traços dela, mas vivo o agora. Agradeço por tudo que passei. Me serviu de lição. Não guardo rancor de ninguém, de nada. Aprendi a ter muita fé em Deus, confiar em mim e acreditar que tudo é maravilhoso, basta entender e aceitar os fatos como uma escola de oportunidades.
Diariamente cenas desfilam e dialogam dentro de mim...
Obrigada, garotinha, por me embalar com seu sorriso puro e me encantar com os acontecimentos simples da vida.
Baseado na história de Riciene Peccin Fagherazzi, 66 anos - Farroupilha
Veja o vídeo da Etapa Regional em São Paulo
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=iLG-Zg-aMVw

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Olimpíadas da Língua Portuguesa - 7.11.2012

 

   Este ano tive a oportunidade de participar das Olimpíadas de Língua Portuguesa. Transitar com maestria em meio à leitura e à escrita é missão de todo professor e um vício para mim. Assim, fui convidada para a formação continuada de professores mediante estudos mensais. Nos encontros, abordou-se "lugar onde vivo" com o intuito de escrever não só sobre o local onde se vive, mas estimular novas leituras, pesquisas e reflexões. 
    Nesse ambiente temático, foram desenvolvidas belas "memórias", e uma delas teve um destaque maior: classificada para a etapa regional das Olimpíadas de 2012.